SARKOZY HOMENAGEOU AS VÍTIMAS DO GENOCÍDIO DE 1994.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010


Durante uma visita altamente simbólica, destinada a ultrapassar quase 16 anos de relações difíceis entre os dois países, o Presidente escreveu num livro no memorial às vítimas daquela tragédia que “a Humanidade guardará para sempre a memória destes inocentes e do seu sofrimento”.

“Em nome do povo da França, manifesto o meu respeito às vítimas do genocídio”, sublinhou Sarkozy durante a sua presença em Kigali, a capital ruandesa.

Acompanhado pelos ministros locais dos Negócios Estrangeiros, Louise Mushikiwabo, e da Cultura, Joseph Habineza, o visitante respeitou um minuto de silêncio em frente às valas comuns onde se encontram os restos mortais de 250.000 das quases 900.000 vítimas do genocídio de 1994.

Seguidamente, o primeiro Presidente francês a deslocar-se ao país desde a tragédia, colocou uma coroa de flores numa das valas, procurando assim ultrapassar o mal-estar que tem existido entre Paris e o regime da Frente Patriótica Ruandesa (FPR), do general Paul Kagamé.

A FPR, que chegou ao poder depois de ter derrotado as forças responsáveis pelo genocídio, tem acusado repetidamente a França de ter contribuído para o que se passou, pois mantinha estreitas relações com o regime anterior.

Foi a morte do chefe desse regime, Juvenal Habyarimana, na queda de um avião, que levou os partidários do mesmo a desencadearem a chacina, que se prolongou por três meses e vitimou em grande parte membros da camada social tutsi.

As milícias extremistas que cometeram o crime pertenciam à maioria populacional hutu, a que vive do amanho da terra.



in PUBLICO (edição de 26/02/2010)

Nobre faz tremer Bloco que Alegre passou três anos a unir

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

BE deu apoio ao poeta socialista, mas há militantes a preferir o independente. Figuras bloquistas esperam para ver
Manuel Alegre ou Fernando Nobre? A resposta só tem de ser dada daqui a um ano, nas urnas. Mas a pergunta está a dar que pensar e a dividir os militantes bloquistas.
Em Janeiro, o BE colocou-se ao lado de Alegre. Só que a entrada de Nobre na corrida a Belém baralhou as contas. Fugindo sempre à palavra "precipitação", vários dirigentes bloquistas têm admitido que as presidenciais ainda "pouco têm de definitivo".
Os apoiantes de Nobre reflectem uma "opinião que existe no meu espaço político e que não deve ser estigmatizada", escreveu o eurodeputado Miguel Portas, num texto publicado no Facebook em que reitera a posição do BE.
Mais à frente, deixou um aviso a Alegre: "Entre o dia de hoje e o do voto muita água correrá debaixo da ponte. Todos acabaremos por votar em função do modo como cada candidato for interpretando a vertiginosa velocidade em que as diferentes crise se estão a movimentar em Portugal."
Rui Tavares, o independente eleito eurodeputado na lista do BE, ainda não deu o apoio a qualquer candidato. Tavares recusou comentar a posição do Bloco mas disse ao DN que "quer ouvir o que os dois candidatos têm a dizer".
Nobre foi mandatário do BE às europeias. "As causas do BE são também as minhas causas", sublinhou, na altura. Embora se tenha apresentado como um cidadão que não fica nem à esquerda nem à direita, é consensual que Nobre vai disputar o eleitorado de Alegre.
Entre os bloquistas, há quem condene o socialista por não romper com José Sócrates com medo de estar a alienar o apoio do PS nas presidenciais. Para outros, é a figura de Fernando Nobre que os leva a não seguir o partido.
Ao DN, a deputada Ana Drago admitiu que "Nobre é admirado por tanta gente, que haverá quem não o coloque imediatamente de fora". Mas recusou a ideia que o BE se tenha "precipitado" a apoiar Alegre. "Fizemos um longo caminho nos últimos três anos de debate e reflexão com Manuel Alegre [debate da Trindade e fórum das esquerdas, na Aula Magna] e concordamos na avaliação crítica do Governo," explicou a bloquista.
Ana Drago lembrou que o BE, na sua Convenção, decidiu apoiar uma candidatura crítica que pudesse unir a esquerda contra o bloco conservador que deve apoiar a recandidatura de Cavaco Silva. Reconhecendo que ainda se está "muito no início", a deputada disse não acreditar que Nobre tenha a capacidade de união de Alegre.
Drago admitiu duvidar do sentido de haver duas candidaturas à esquerda, mas descartou a hipótese de apelar à desistência de qualquer deles. Nobre já deixou claro que não lhe daria ouvidos, frisando que a sua candidatura é "um combate pessoal" para "levar às últimas consequências".


artigo de Hugo Filipe Coelho, in DN, 25 de Fevereiro de 2010

O Presidente da Assistência Médica Internacional, Fernando Nobre, avança amanhã com a candidatura à Presidência da República

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010


Fernando Nobre foi apoiante da candidatura de Mário Soares em 2006 e mandatário nacional do Bloco de Esquerda nas últimas eleições europeias.

Nas últimas autárquicas fez parte da comissão de Honra de duas candidaturas fortes do PS e PSD: António Costa, Lisboa, e António Capucho, Cascais.

É licenciado em Medicina e é também o criador e presidente da AMI, organização humanitária fundada em 1984.

Nobre começou por fazer parte da organização francesa Médicos sem Fronteiras e foi desafiado pelo então Ministro da Saúde, Maldonado Gonelha, a criar uma organização semelhante em Portugal.

Fonte: SAPO

Contos Novos, Rumos velhos.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010


Paulo Rangel não é um daqueles rapazes do PSD que, nunca tendo feito nada na vida, fizeram carreira no partido e dele dependem para levar a vidinha.
Rangel fez-se homem como professor universitário e é dotado de uma grande inteligência, cultura, capacidade de trabalho e de comunicação.
Aguiar Branco, enquanto Ministro da Justiça, chamou-o para seu Secretário de Estado, durante o governo de Santana Lopes.
Como, de facto, é uma pessoa com qualidades, Paulo Rangel cedo se distinguiu dentro do PSD pela clareza das suas ideias e pela forma como as expõe.
Em pouco tempo liderava a bancada parlamentar do seu partido.
E como Portugal - já alguém o disse - é um país em que se cortam as árvores porque fazem sombra aos arbustos, o sucesso de Rangel começou a incomodar alguns dentro do seu próprio partido.
Pouco confiantes nas capacidades eleitorais do PSD, alguém se lembrou de “queimar” Rangel mandando-o para o “degredo” da Europa, pensando que lá longe ele não se faria notar.
Mas Rangel mais uma vez surpreendeu: ganhou as eleições europeias.
Desse modo, aqueles que procuraram enfeitiçá-lo acabaram por cair no próprio feitiço: a vitória nas europeias deu a Rangel um capital político que outros não tinham e que o coloca numa posição confortável relativamente aos demais candidatos.
As legislativas foram para o PSD o desaire que se viu.
Colado a Ferreira Leite durante toda a campanha eleitoral, Aguiar Branco - esperto como é - apressou-se, após a derrota, a candidatar-se à liderança da bancada parlamentar, bem sabendo que era o único poleiro que lhe poderia garantir uma voz activa no partido mantendo a sua visibilidade.
Rangel, já na Europa, negou ser candidato à liderança do PSD.
Palavra de político, como se acaba de ver.
Quando Aguiar Branco contava espingardas, eis que Paulo Rangel quebra a palavra e, adiantando-se àquele, se candidata à liderança do partido.
Foi ver Aguiar Branco aparecer de sorriso amarelo em frente às câmaras da televisão, dizendo que só falaria na sexta-feira seguinte porque cumpre sempre o que diz.
Só não percebeu a indirecta quem não quis.
Aguiar Branco sentiu-se atraiçoado por Rangel a quem trouxe para a notoriedade, quando o convidou para seu Secretário de Estado.
Os políticos, infelizmente, já nos habituaram a isto. Fenómenos como o tacticismo político, a reserva mental, as traições são instrumentos normais dentro da luta política.
O que se estranha é que eles próprios ainda se surpreendam com isso.
Por mais floreado que possa ser o seu discurso, todos nós sabemos o que os move e o que deles podemos esperar.
Invertendo o título do álbum de Zeca Afonso dizemos: “Contos novos, rumos velhos”.


Miguel Salgueiro Meira


Publicado integralmente na edição de 17 de Fevereiro de 2010 do jornal "Público", pag. 30.
Publicado parcialmente na edição de 14 de Fevereiro de 2010, do jornal "Diário de Notícias"

CALHANDRICES


Mário Crespo é, sem dúvida alguma, um dos melhores jornalistas televisivos portugueses da actualidade.
O “Jornal das 9” que apresenta na SIC NOTÍCIAS é, seguramente, um dos melhores – senão o melhor – programa informativo do País.
Aí são entrevistadas importantes figuras da cena nacional e aí se proporcionam debates relevantes sobre a actualidade política, económica e social, num programa que se destaca pela qualidade dos temas e dos intervenientes.
Não desconhecemos, no entanto, a antipatia que Mário Crespo tem pelo partido do governo. Ela é latente e indisfarçável.
Bastará recordar a entrevista ao ministro Pedro Silva Pereira, e estamos esclarecidos relativamente à simpatia do jornalista pelo governo e pelo partido que o sustenta.
E daí?
Portugal é – a Constituição assim o diz - um Estado de direito democrático baseado, entre outras coisas, no pluralismo de expressão e no respeito e na garantia de efectivação dos direitos e liberdades fundamentais.
Uma das funções da liberdade de expressão é precisamente servir de instrumento de controlo da actividade governamental e do próprio exercício do poder.
É no seio de discussões livres e abertas que se procurará atingir a verdade e desmistificar as falsas questões.
Mário Crespo tem a sua perspectiva. Não disfarça a sua animosidade com o governo. Todos o sabem. É público e notório.
Cabe a cada um avaliar com grano salis os debates e o serviço noticioso que ele nos proporciona.
Mas não caberá a ninguém silenciá-lo.
No texto “O fim da linha”, Mário Crespo relata (com a respectiva animosidade que já lhe é conhecida) que o primeiro-ministro e outros elementos do executivo presentes num alegado almoço a ele se terão referido «como sendo mentalmente débil (“um louco”) a necessitar de (“ir para o manicómio”). Fui descrito como “um profissional impreparado”».
Até aqui nada haveria a dizer dos alegados comentários: livre exercício da crítica.
Mas o caso muda de figura quando Mário Crespo alega que, no dito almoço, se referiram a ele como «como “um problema” que teria que ter “solução”».
Aqui já não se trata de opinar livremente. Aqui trata-se de silenciar quem discorda.
E isso, a ter sido sugerido, é intolerável.
A reacção que, segundo a agência Lusa, foi proferida por fonte do Ministério dos Assuntos Parlamentares é insuficiente para esclarecer esta questão.
Incumbia ao Governo tomar uma posição clara sobre se tal expressão foi ou não proferida por membros do Governo e em que contexto.
Limitar-se a referir o episódio como mais um dos “casos fabricados com base em calhandrices” é pouco para tão grave insinuação.
Por algo bem menos grave, José Sócrates instaurou uma queixa-crime contra o jornalista João Miguel Tavares.
Se tudo o que foi relatado por Mário Crespo é mentira e se se trata de mais um caso fabricado caberá ao primeiro-ministro esclarecer.
A bola está do lado dele.

Miguel Salgueiro Meira

Texto publicado parcialmente na edição do dia 9 de Fevereiro de 2010 do jornal "Diário de Notícias"