OS GARIMPEIROS DA DESGRAÇA ALHEIA

terça-feira, 29 de março de 2011




À mesma velocidade que nascem os cogumelos na floresta, assim tem proliferado as lojas de compra de ouro usado por todo o País.
Facto revelador das dificuldades económicas e financeiras que afectam as famílias portuguesas, ele não deixa de evidenciar que, mesmo em tempo de crise, houve sempre quem enriquecesse à custa da desgraça alheia.
Mesmo na mais devastadora das guerras, houve sempre quem enriquecesse, fosse com a venda de armamento ou fardamento militar, fosse com o ouro NAZI arrecadado aos judeus – como recentemente deu conta o relatório da Comissão Bergier.
E se de um negócio lícito se trata, ele não deixa de ter aparências de um verdadeiro negócio usurário.
No “boom” de crescimento económico da década de 90, as famílias portuguesas foram aliciadas pela banca a contrair créditos para os mais diversos fins.
Do necessário crédito à habitação, passando pelo crédito automóvel até ao crédito para férias(!), os portugueses endividaram-se para fins necessários ou perfeitamente fúteis.
Slogans como “Faça crédito hoje e comece a pagar daqui a dois anos” ou “Quanto mais comprar mais ganha” destronaram o velhinho e previdente “No poupar é que está o ganho”.
Mas como diz o ditado “Não há mal que sempre dure e bem que nunca acabe”.
Estava bom de ver que a espiral consumista de gastar acima das possibilidades não ia dar bom resultado.
A falta de formação de grande parte dos portugueses e o sucessivo bombardear de facilidades no recurso ao crédito não os deixou ver que é impossível subsistir gastando mais do que aquilo que se ganha.
A crise económica bateu à porta e a corda começou a apertar à volta das gargantas dos portugueses.
Grande parte deles tinha o seu salário mensal contado para fazer face a toda uma panóplia de amortizaçoes da mais variada espécie de créditos.
Com o crescente aumento do preço dos combustíveis e consequente subida do preço dos produtos, bem como com a subida da taxa Euribor, os portugueses rapidamente viram aumentadas as suas despesas fixas.
No entanto, os seus salários não aumentaram para acompanhar o aumento da despesa.
Isto fez com que, ao lado das classes sociais mais desfavorecidas, surgissem os chamados “novos pobres”: aqueles que, possuindo um salário confortável, contrairam tantos empréstimos e obrigações financeiras que lhes consumiram a totalidade do seu rendimento de trabalho, deixando-os numa situação económico-financeira muitas vezes pior do que os “velhos” pobres.
À desgraça do “aperto” económico, somou-se a vergonha que a perda do pseudo “status” adquirido lhes poderia trazer.
Agora nada mais lhes resta a não ser vender aquilo que podem e tem valor: o precioso metal que ainda sobra lá por casa, reminescência de tempos áureos de “vacas gordas”.
Dramático é que eles se tenham que desfazer precisamente daquele bem que mais valoriza nos mercados: o ouro.
Mas, como vemos, há sempre alguém que “cheira” na desgraça alheia uma oportunidade do negócio.
Sinais dos tempos.
“Vão-se os aneis ficam-se os dedos”.

Miguel Salgueiro Meira