RATKO MLADIC: o símbolo vivo da barbárie e do terror

quinta-feira, 26 de maio de 2011




A detenção de Ratko Mladic, e a sua submissão a julgamento pelos crimes de genocídio, crimes contra a humanidade e crimes de guerra, pelos quais se encontra acusado desde Julho de 1995, não significará apenas mais um triunfo para a justiça penal internacional.
Ela permitirá às suas vítimas alcançar a paz e reconciliação que a memória desses crimes e a ausência de punição dos seus responsáveis lhes negou.
Falar em Ratko Mladic não é falar apenas num homem ou num comandante militar. Falar em Ratko Mladic é falar na barbárie e terror mais grotesco vivido durante a guerra na Bósnia.
Nomeado Comandante do Exército Sérvio da Bósnia em 12 de Maio de 1996, Ratko Mladic envolveu-se juntamente com Radovan Karadzic – única pessoa a quem se encontrava subordinado - num plano para eliminar ou remover definitivamente os Muçulmanos Bósnios e outros habitantes não-Sérvios dos territórios da Bósnia-Herzegovina reclamados pelos Sérvios.
A partir de Maio de 1992, as forças militares sérvias, sob o comando de Ratko Mladic, iniciaram a ocupação de vários territórios na Bósnia-Herzegovina. Nos diversos municípios ocupados, as forças militares sérvias participaram em campanhas de perseguição às populações não-sérvias. Milhares de indivíduos foram deportados ou transferidos à força para fora desses municípios. Muitos foram assassinados e muitos outros foram mantidos em centros de detenção onde eram torturados e mantidos em condições desumanas.
À parte desses actos de barbárie física, o exército sérvio, sob o comando de Ratko Mladic, destruiu e apropriou-se de casas, estabelecimentos comerciais, locais de culto e outros bens propriedade dos indivíduos não-Sérvios.
Muitos dos Muçulmanos Bósnios fugiram, então, para os territórios da Bósnia-Herzegovina controlados pelo governo, nomeadamente Sebrenica e Zepa.
As forças militares Sérvias iniciaram, então, uma operação para capturar a localidade de Sebrenica e expulsar a população Muçulmana Bósnia que aí se havia refugiado.
Entre 12 e 20 de Julho de 1995, milhares de Muçulmanos Bósnios foram capturados pelas forças militares sob o controlo de Ratko Mladic. Cerca de 8 000 Muçulmanos Bósnios capturados em Sebrenica foram sumariamente executados entre 13 e 19 de Julho de 1995, tendo sido posteriormente enterrados em valas comuns.
Ratko Mladic sabia que todos estes crimes estavam a ser cometidos no terreno pelas forças militares sob o seu comando, mas nada fez para prevenir ou punir esses actos.
Passaram-se já quase 16 anos sobre esses crimes.
Milhares de pessoas permanecem ainda marcadas, física e psicologicamente, pelos horrores vivenciados na guerra da Bósnia.
Não eliminando essas marcas, a detenção e julgamento de Ratko Mladic e Radovan Karadzic terão, no entanto, a virtualidade de por fim a um sentimento de impunidade que grassava no coração desses milhares de pessoas.
A esperança na Justiça nunca deve morrer.

Miguel Salgueiro Meira


Publicada parcialmente na edição de 3 de Junho de 2011 do semanário "EXPRESSO", in "Carta da semana", pag. 44