ALTERNATIVAS DEMOCRÁTICAS E O SEU CONGRESSO

quinta-feira, 27 de setembro de 2012



A 25 de Abril de 1974 os portugueses, descontentes com o regime do Estado Novo, deixaram para trás décadas de ditadura e começaram a aprender a viver e conviver em democracia.
Das primitivas sessões de esclarecimento num Portugal pobre, analfabeto e iletrado, passando pela realização das primeiras eleições (com a maior taxa de participação de sempre), foi-se caminhando no sentido da consolidação das instituições democráticas que permitisse obter a estabilidade política necessária à modernização económica do país.
A entrada na Comunidade Económica Europeia trouxe fundos que permitiram empreender obras públicas que ajudaram a “lavar a cara” do país, criando a ilusão de que estávamos a sair da pobreza, de que a nossa economia florescia e caminhava no rumo certo. Quem se atrevesse a criticar tal rumo logo era apelidado de “velho do Restelo”.
Esse “apogeu” económico da década de noventa aliado à realização periódica de eleições criou a (falsa) ideia de que a democracia e o desenvolvimento económico do país eram factos consumados e incontornáveis e que jamais estariam em causa.
Por força disso mesmo, o país político entrou numa alternância democrática rotineira entre governos do PS e do PSD, onde as velhas matrizes ideológicas fundadoras se esbateram e apagaram, onde se abandonaram políticas de longo prazo tendentes a implementar modelos ideológicos de desenvolvimento económico e social, dando lugar a uma governação pragmática do imediato.
A governação passou, assim, a ser a implementação e execução de medidas aleatórias e avulsas, sem qualquer objectivo de longo prazo, transversal aos partidos.
As eleições passaram a ser uma troca de cadeiras à volta de uma mesa cada vez mais “vazia de comida”.
A globalização, a nossa impreparação para lhe fazer frente e a crise económica globalizada que actualmente vivemos vieram abalar todas as nossas “certezas”.
Ao verem a ineptidão dos partidos e dos políticos para governarem o país, os portugueses começam a perder a confiança neles e, perdendo-a, começam a desconfiar e questionar a própria democracia.
Os que se recusam a acreditar na falência da democracia em que nos colocou a bipolarização partidária, procuram encontrar alternativas que permitam reerguer o país e tira-lo do pântano e da miséria a que anos de má governação conduziram.
Tal como no final do sec. XIX, onde um grupo de intelectuais se reuniu nas célebres “Conferências do Casino” para analisar as“Causas de decadência dos povos peninsulares”, também agora se prepara um magno encontro de portuguesas e portugueses, das mais diversas origens sociais e profissões, preocupados com o rumo que leva o seu país e empenhados em encontrar alternativas de governação que o salvem e salvem a democracia.
“Congresso Democrático das Alternativas”, a realizar em 5 de Outubro de 2012, é uma lufada de ar fresco e de esperança para aqueles que se recusam a aceitar os caminhos impostos pelo bipartidarismo e um esforço de encontrar soluções alternativas válidas para o “resgate democrático de Portugal”.
Não serão já sessões de esclarecimento de uma democracia jovem destinadas à alfabetização política do país, mas sim sessões de reflexão de um povo esclarecido para salvar uma democracia gravemente ferida.
Esperemos só que, ao contrário do que sucedeu no século XIX, os seus promotores não venham a ser uns novos “vencidos da vida”.

Miguel Salgueiro Meira



Publicado na edição do dia 27 de Setembro de 2012 do jornal "Público", pag. 52, "Cartas à Directora".

quarta-feira, 2 de maio de 2012

O 1º DE MAIO, O PINGO DOCE E A MISÉRIA NACIONAL


O episódio do dia 1º de Maio nos supermercados Pingo Doce é revelador.
As filas que pudemos ver à porta daqueles supermercados trazem à memória os tempos do racionamento nos anos 40, em que se podiam visionar filas enormes à porta dos estabelecimentos comerciais para reclamar os parcos mantimentos a que os portugueses tinham direito, ou aquelas outras na ex-URSS para reclamar as escassas provisões a que os soviéticos tinham direito contra a apresentação das senhas de racionamento.
Mas no passado dia 1 de Maio foi diferente.
Não havia guerra. Não havia economia estatizada. Não havia racionamento.
Mas uma coisa havia em comum com esses tempos: a miséria.
O episódio do Pingo Doce, veio, assim, por a nu o estado necessidade e miséria a que os portugueses estão a ser conduzidos.
Ela é de tal ordem que não tardou a haver desacatos, chegando-nos as notícias de que (pasme-se) até houve feridos!
O estado de necessidade dos portugueses já está, por isso, a assumir proporções que, não tarda, terá repercussões mais sérias sobre a ordem pública.
No passado tivemos miséria por causa da guerra.
Esperemos que o futuro não nos traga guerra por causa da miséria.

Miguel Salgueiro Meira