Nobre faz tremer Bloco que Alegre passou três anos a unir

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

 

BE deu apoio ao poeta socialista, mas há militantes a preferir o independente. Figuras bloquistas esperam para ver
Manuel Alegre ou Fernando Nobre? A resposta só tem de ser dada daqui a um ano, nas urnas. Mas a pergunta está a dar que pensar e a dividir os militantes bloquistas.
Em Janeiro, o BE colocou-se ao lado de Alegre. Só que a entrada de Nobre na corrida a Belém baralhou as contas. Fugindo sempre à palavra "precipitação", vários dirigentes bloquistas têm admitido que as presidenciais ainda "pouco têm de definitivo".
Os apoiantes de Nobre reflectem uma "opinião que existe no meu espaço político e que não deve ser estigmatizada", escreveu o eurodeputado Miguel Portas, num texto publicado no Facebook em que reitera a posição do BE.
Mais à frente, deixou um aviso a Alegre: "Entre o dia de hoje e o do voto muita água correrá debaixo da ponte. Todos acabaremos por votar em função do modo como cada candidato for interpretando a vertiginosa velocidade em que as diferentes crise se estão a movimentar em Portugal."
Rui Tavares, o independente eleito eurodeputado na lista do BE, ainda não deu o apoio a qualquer candidato. Tavares recusou comentar a posição do Bloco mas disse ao DN que "quer ouvir o que os dois candidatos têm a dizer".
Nobre foi mandatário do BE às europeias. "As causas do BE são também as minhas causas", sublinhou, na altura. Embora se tenha apresentado como um cidadão que não fica nem à esquerda nem à direita, é consensual que Nobre vai disputar o eleitorado de Alegre.
Entre os bloquistas, há quem condene o socialista por não romper com José Sócrates com medo de estar a alienar o apoio do PS nas presidenciais. Para outros, é a figura de Fernando Nobre que os leva a não seguir o partido.
Ao DN, a deputada Ana Drago admitiu que "Nobre é admirado por tanta gente, que haverá quem não o coloque imediatamente de fora". Mas recusou a ideia que o BE se tenha "precipitado" a apoiar Alegre. "Fizemos um longo caminho nos últimos três anos de debate e reflexão com Manuel Alegre [debate da Trindade e fórum das esquerdas, na Aula Magna] e concordamos na avaliação crítica do Governo," explicou a bloquista.
Ana Drago lembrou que o BE, na sua Convenção, decidiu apoiar uma candidatura crítica que pudesse unir a esquerda contra o bloco conservador que deve apoiar a recandidatura de Cavaco Silva. Reconhecendo que ainda se está "muito no início", a deputada disse não acreditar que Nobre tenha a capacidade de união de Alegre.
Drago admitiu duvidar do sentido de haver duas candidaturas à esquerda, mas descartou a hipótese de apelar à desistência de qualquer deles. Nobre já deixou claro que não lhe daria ouvidos, frisando que a sua candidatura é "um combate pessoal" para "levar às últimas consequências".


artigo de Hugo Filipe Coelho, in DN, 25 de Fevereiro de 2010

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