As vulnerabilidades do Presidente

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

 

A propósito do caso das escutas, Cavaco Silva esteve mal antes e depois das eleições.
O silêncio do Presidente da República até ao fim das eleições demonstrou uma atitude de reserva incompreensível face a gravidade dos factos propalados.
Esperava-se, pois, que a sua tão aguardada declaração pudesse esclarecer finalmente aquilo que se discutia: tinha o artigo do jornal “Público” sobre o caso das “escutas” sido encomendado pela Presidência da República para prejudicar o Governo a poucas semanas do acto eleitoral? Ou tinha o Presidente da República fundado receio de estar a ser escutado?
Cavaco Silva falou vários minutos.
No entanto, nem uma palavra proferiu acerca da notícia do jornal “Público” sobre o caso das “escutas”, cuja autoria moral lhe era imputada.
Nada ficou, assim, esclarecido sobre esse ponto.
O Presidente da República preferiu falar do email citado pelo Diário de Notícias que apelidou de “velho de 17 meses”, sem que, no entanto, se tenha mostrado chocado com o facto de esse email “velho de 17 meses” dar origem a um artigo difamatório do Governo precisamente em época de eleições.
Restava ouvir Cavaco Silva sobre o “fundado receio” de estar a ser “escutado” pelo Governo.
Neste aspecto, e para aqueles que esperavam ouvir do Chefe de Estado algo de consistente, a desilusão foi ainda maior.
Cavaco Silva disse ter ouvido (no próprio dia em que se dirigiu ao País) diversas entidades com responsabilidades da área da segurança para saber se alguém poderia aceder ao seu computador e o seu email, designadamente à informação confidencial nele contida.
E concluiu que “existem vulnerabilidades”.
Para quem lida com computadores, digamos que os responsáveis da área de segurança foram dizer ao Presidente da Republica que “inventaram a pólvora”.
Toda a gente sabe que os computadores são vulneráveis.
O que os técnicos de segurança não lhe disseram – ou se disseram Cavaco Silva não o disse aos Portugueses – é que o sistema informático da Presidência da República foi violado. E isso, a ter ocorrido, estava perfeitamente ao alcance daqueles técnicos apurar.
Digamos, pois, que “a montanha pariu um rato” e que o Presidente da República nada esclareceu do que lhe era pedido.
Tendo em conta a gravidade dos factos que lhe eram imputados e aos quais nem sequer se referiu, esteve mal Cavaco Silva.
A vulnerabilidade do Presidente da República não é, neste momento, informática: é política.


Miguel Salgueiro Meira, in Publico, pag. 52, 2 de Outubro de 2009

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